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Gustavo Almeida

Farra dos shows nos municípios também diz respeito aos deputados

Festas promovidas pelas prefeituras com atrações nacionais caras são bancadas, em sua maioria, com emendas de deputados estaduais.

Na semana passada repercutiu na imprensa o caso do prefeito de Fartura do Piauí que chorou ao falar da seca em seu município numa entrevista ao vivo na televisão. No dia seguinte, os que se sensibilizaram com o choro ficaram indignados ao saberem que o prefeito, ao tempo em que chorava por causa da seca, iria gastar cerca de meio milhão de reais com um show da Banda Calcinha Preta e outras atrações musicais. O show foi cancelado após recomendação do Ministério Público e a exposição na mídia.

É comum que a imprensa e os órgãos de fiscalização sempre mirem nos prefeitos quando o assunto é dinheiro público torrado em grandes festas com atrações nacionais. Não estão errados quando fazem isso, afinal, os prefeitos são os principais responsáveis por decidir o que deve ou não ser prioridade em seus municípios. Se eles gastam milhões com festas enquanto faltam serviços básicos na cidade, são, sim, os maiores culpados.

Contudo, também existem outros agentes públicos com parcela de culpa que precisam ser expostos e condenados pela opinião pública em relação às verbas vultosas enviadas para festas: os deputados estaduais. Foram eles que acostumaram mal os prefeitos.

Show do cantor Vítor Fernandes em São José do Piauí no último sábado (12). No monitor posicionado à frente do artista, os nomes dos deputados que patrocinaram a festa.

Na maioria dos casos, as festas são bancadas com emendas destinadas pelos deputados estaduais através de secretarias de Estado como a de Cultura, a de Turismo, a de Esportes e ainda a Coordenadoria de Enfrentamento às Drogas e Fomento ao Lazer (Cendfol). Eles geralmente mandam as verbas para cidades onde possuem bases eleitorais.

Está na hora dos senhores deputados começarem a ter um pouco mais de critério na hora de atender a pedidos fúteis dos gestores municipais. É preciso educá-los e, quando necessário, começar a negar as verbas se estas forem, com frequência, apenas para a realização de festas.

Aliado a isso, ainda existem muitas suspeitas de corrupção com emendas parlamentares para shows. Em muitos casos, determinadas empresas “produtoras de eventos” contratam as bandas para se apresentarem em várias prefeituras de uma mesma região. Basta uma breve conversa sobre o tema em algumas rodas para saber da idoneidade suspeita de empresas que fecham com secretarias estaduais e/ou prefeituras para contratar os artistas.

Alguns prefeitos ainda usam de cinismo e descaramento quando são questionados sobre o fato de estarem gastando valores exagerados com festas. Para se defender, dizem que não estão usando recursos próprios, pois as verbas são oriundas de uma secretaria estadual. Desculpa fajuta e mentirosa! O recurso, nesse caso, é oriundo de secretaria, mas quem foi atrás da verba foi o prefeito. É um recurso público que ele quis usar para fazer farra, quando poderia ter ido reivindica-lo para outra finalidade.

Grandes shows com menção a nomes de deputados são rotina no estado do Piauí

Importante lembrar que não se trata de ser contra a realização de festas, afinal, diversão também é uma necessidade da população e é papel do poder público promover entretenimento. O que se questiona é a definição de prioridades em determinadas situações - como ocorre agora com municípios gravemente afetados pela seca - além, claro, do exagero na gastança com festa. Não se pode admitir um município em crise ou com serviços precários torrar milhão com grandes bandas nacionais em um festejo.

É preciso, também, que a população tome mais consciência em relação a isso. Querer as festas, todos querem. Ir a um bom show é bom demais. Contudo, as pessoas precisam compreender o que uma gestão deve ou não priorizar, sobretudo quando há um quadro de crise por alguma razão. Ninguém deve condenar as festas, mas sim o exagero ao fazê-las.

E, voltando aos senhores deputados estaduais, eles deveriam começar a ser expostos nesse tipo de debate. Não dá pra ficar fazendo tanta politicagem com verbas para festas.

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