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Gustavo Almeida

Análise | Vereadores erram ao falar que Silvio Mendes não precisa de oposição

Ser oposição não é atrapalhar. É fiscalizar, apontar erros, criticar, cobrar mudanças, ajudar. Ninguém é contra uma cidade quando se opõe politicamente ao gestor dela.

 Câmara Municipal de Teresina (Foto: Gustavo Almeida/DitoIsto)

Nas eleições municipais de 2024, o palanque político do prefeito Silvio Mendes (União Brasil) só elegeu cinco dos 29 vereadores de Teresina. Contudo, o novo gestor já tomou posse com a simpatia da maioria no parlamento. Em busca da sombra do Palácio da Cidade e de olho em espaços na gestão municipal, praticamente todos os vereadores repetem que a gestão de Silvio não terá oposição, que a cidade não precisa de oposição.

Como justificativa, dizem que Teresina precisa ser “reconstruída” e que nenhum vereador deve fazer oposição à cidade. É um argumento capenga. Primeiro, os parlamentares revelam uma tremenda falta de conhecimento sobre o conceito de oposição. Ser de oposição não é ser contra a cidade, estado ou país. Ser oposição não é atrapalhar nem embaraçar. Ser oposição é fiscalizar, ser vigilante, apontar erros, criticar, cobrar mudanças, ajudar. Ninguém é contra uma cidade quando se opõe politicamente ao gestor dela.

Ainda sobre a justificativa de que a cidade precisa ser reconstruída, ela também não convence. Aliás, a expressão “reconstrução” foi refutada pelo próprio Silvio Mendes na campanha eleitoral. Em uma entrevista na época, ele disse que Teresina não precisava ser reconstruída porque ela não estava destruída. Na ocasião, Silvio disse que a cidade precisava ser arrumada, reorganizada e colocada novamente nos trilhos. Reconstrução era uma expressão usada pela campanha de Fábio Novo, o candidato derrotado do PT.

Mas, ainda que a cidade tivesse literalmente destruída, ter oposição era necessário, afinal, o trabalho e os investimentos na reconstrução precisariam de vigilância, de fiscalização, de crítica quando houvesse falhas. Até uma cidade destruída pelas bombas de uma guerra precisa ter líderes de oposição para acompanhar a reconstrução. Alegar as dificuldades que o município enfrenta para justificar a total ausência de oposição no parlamento é um equívoco (e, em alguns casos, até cinismo).

Vereadores de Teresina durante solenidade de posse junto com o prefeito Silvio Mendes (Divulgação/Câmara Municipal)

Outro detalhe nessa história de “reconstrução” é o contrassenso da maioria dos vereadores. Se Teresina está “destruída”, como eles pregam, foi justamente a falta de oposição que ajudou a chegar nesse estado de coisas, afinal, é importante lembrar que quase todos os vereadores passaram quatro anos dando apoio à gestão desastrosa do ex-prefeito Dr. Pessoa. Muitos deles, aliás, nem tinham sido eleitos no palanque de Pessoa, mas se aliaram a ele logo no começo e deram sustentação ao seu governo.

Se Dr. Pessoa tivesse tido uma oposição séria e firme desses mesmos vereadores - e de muitos que não se reelegeram - talvez a “destruição” que eles tanto falam não tivesse chegado a tal nível.

No sistema democrático, a oposição tem papel imprescindível. Não importa se o gestor é ruim ou bom, não importa se tem baixa ou alta aprovação. Ele precisa ter oposição. Ainda que um prefeito, governador ou presidente da República tenha 90% de aprovação popular, ele precisa ter uma oposição que o fiscalize, que aponte erros, que faça críticas.

No Piauí, em nível estadual, há muitos anos existe uma carência de oposição firme na Assembleia Legislativa, o que é extremamente nocivo para a política, para a democracia e para o Estado. Poucos ousam fazer uma crítica forte e denunciar desmandos da gestão estadual. A imprensa, que também tem papel importante, padece do mesmo mal.

A verdade é que os vereadores de Teresina, se quiserem mesmo abdicar totalmente do papel de ser oposição, precisam achar outra desculpa mais aceitável. Falar que um governo não precisa de oposição, além de um acinte à democracia, é também uma afronta à sensatez.

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