
O município de Guaribas, distante 623 km de Teresina, foi o berço do programa Fome Zero, lançado pelo presidente Lula (PT) em seu primeiro governo em janeiro de 2003. Com o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país à época, a cidade piauiense ficou conhecida em todo o Brasil por ser escolhida símbolo do programa de combate à fome.
Passados 22 anos daquele distante 2003 em que o programa foi lançado pelo Governo Federal tendo Guaribas como piloto, criou-se no imaginário de parte da população – e de políticos e jornalistas do Piauí – de que o presidente Lula esteve em Guaribas com uma comitiva de ministros para uma agenda relacionada ao Fome Zero. Contudo, Lula nunca pisou os pés em Guaribas.
O que aconteceu
A intenção do presidente Lula era, de fato, ir a Guaribas e levar todo o seu ministério para ver de perto a pobreza e lançar o programa. Os preparativos para a ida de Lula ao município foram muito badalados na imprensa e no meio político local e nacional. A cidade chegou a receber representantes do governo em “preparação” para a agenda de Lula, mas no fim das contas a viagem presidencial foi cancelada.

Depois de estudar bem a logística do deslocamento, a Presidência da República decidiu que não havia condições de Guaribas receber a comitiva presidencial. Para chegar lá, Lula e os ministros teriam que ir em um avião Boeing para Petrolina-PE, depois ir em outros aviões menores até São Raimundo Nonato e de lá seguiriam em vários helicópteros até Guaribas. Como a visita seria de apenas 2 horas, decidiu-se que era inviável executar essa logística complexa.
Na noite do dia 6 de janeiro de 2003, a versão on line da Folha de S. Paulo noticiou que Lula desistiu de viajar até Guaribas, frustrando as expectativas de muita gente que esperava a visita. A manchete dizia: “Para evitar gastos, Lula cancela viagem a Guaribas (PI)". No dia seguinte, a versão impressa da Folha repercutiu a desistência.
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de levar seu ministério para Guaribas (PI), cidade do semiárido nordestino com o terceiro pior IDH do país. O porta-voz da Presidência, André Singer, disse que, embora essa fosse a intenção de Lula desde a campanha eleitoral, percebeu-se agora que a viagem é inviável, por mobilizar uma 'infraestrutura gigantesca'", dizia a reportagem.

Para reforçar os argumentos pelo cancelamento da ida a Guaribas, o ministro extraordinário do Combate à Fome e da Segurança Alimentar, José Graziano, disse, em outra reportagem, que seria um "contrassenso" gastar tanto dinheiro público num programa de combate à miséria para uma visita rápida, de apenas duas horas.
Visita de ministros
Com a desistência de Lula de ir à Guaribas, o Governo optou apenas por enviar quatro ministros no mês seguinte, em 3 de fevereiro de 2003, para o lançamento de algumas ações de combate à miséria vinculadas ao Fome Zero. Estes sim, chegaram à cidade de helicóptero. De lá eles foram para Cristino Castro e no dia seguinte também visitaram a cidade piauiense de Acauã, na divisa com Pernambuco.
Integravam o grupo os ministros José Graziano (Combate à Fome), Olívio Dutra (Cidades), Ciro Gomes (Integração Nacional) e Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), além do secretário-executivo do Ministério da Educação e de representantes da FAO e da Unesco, órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Viagem à Teresina

Para se redimir da desistência de ir a Guaribas, Lula resolveu visitar a Vila Irmã Dulce, na periferia de Teresina. A visita aconteceu no dia 10 de janeiro de 2003. Na ocasião, Lula levou uma comitiva de 30 ministros para mostrar de perto a eles um exemplo da miséria que o petista prometia combater ao iniciar aquele governo.
A viagem para conhecer a Vila Irmã Dulce foi a primeira de Lula como presidente da República.
Nova desistência
Nas eleições presidenciais de 2022, a equipe de Lula chegou a cogitar uma agenda do então candidato em Guaribas. Um dos entusiastas da visita era Wellington Dias (PT), que fazia parte da coordenação da campanha do petista no Nordeste. Porém, a equipe desistiu.
Passadas duas décadas da primeira desistência lá em janeiro de 2003, a equipe entendeu que Guaribas seguia sem as condições adequadas para receber Lula, ainda que na condição de candidato a presidente.