Foi sancionada pelo presidente Lula na última segunda-feira (13) a lei que proíbe o uso de celulares em salas de aula. Exatamente: foi preciso criar uma lei! O projeto teve apoio de todas as alas, da esquerda e da direita. Mas o que ninguém questionou foi o porquê de o Estado precisar interferir em regras comportamentais, quando, na verdade, esse tipo de limite – que é necessário – deveria ser imposto pela família e pela escola.
Afinal, não deveriam ser primeiramente os pais, juntamente com a direção das escolas e professores, os responsáveis por estabelecer esse tipo de regra? A grande verdade é que uma parcela significativa dos pais contemporâneos perdeu a autoridade sobre os filhos e a capacidade de lhes impor limites. Não bastasse isso, ao longo dos anos foi sendo tirada também a autoridade dos professores e demais profissionais da educação.
No ideal de família feliz que muitos alimentam não há desavenças, crianças não choram, não se frustram, nem são repreendidas. Assim, crescem sem saber o que é limite, sem saber o que é hierarquia, na família e na vida social. Boa parte dos pais parece pensar que o mundo inteiro precisa tratar seus filhos lá fora com o mesmo amor que normalmente encontram em casa. Contudo, sabemos que não é assim que funciona.
É certo que o celular dentro de sala de aula atrapalha o ensino e desafia os professores, mas, e os alunos mal-educados – e muitas vezes mal-criados – não desafiam? Hoje em dia, escolas são obrigadas a lidar com uma geração de pais que sempre acham que os filhos têm razão em tudo. Esses pais costumam questionar regras e até confrontar professores. Isso, certamente, a lei que proíbe o uso do celular em sala não vai mudar.
O fato é que o Brasil é o país onde uma parcela crescente da população relativiza e terceiriza toda e qualquer obrigação. O Estado, que deveria se preocupar com questões maiores, como o índice de violência, adolescentes que entram para o tráfico de drogas e a expansão das facções criminosas, ainda precisa gastar energia e se preocupar com a proibição de celular dentro das salas de aula. Desse jeito, é difícil a coisa evoluir.