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Gustavo Almeida

Opinião: Quando a hipocrisia da esquerda é mais grave que o machismo e a misoginia

Episódio em que Lula colocou beleza de Gleisi Hoffmann na frente de suas supostas qualidades como pessoa pública não causou indignação na esquerda, especialista em fazer zoada com esses temas.

Gostem ou não, algumas hipocrisias na política precisam ser escancaradas e criticadas. Vai sempre ter alguém – normalmente um hipócrita – para considerar toda e qualquer crítica resultado de preferências partidárias, de esquerda ou direita, já que vivemos nesse ambiente hostil de polarização entre dois espectros.

Ainda assim, é preciso apontar as hipocrisias, sem medo. Na quarta-feira (12), o presidente Lula (PT) afirmou, durante um evento oficial no Palácio do Planalto, que colocou “uma mulher bonita” para poder estabelecer uma melhor relação e diminuir a distância com o Congresso Nacional. A “mulher bonita” em questão é Gleisi Hoffmann, nova ministra da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Federal.

Gleisi Hoffmann e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

Num desejável mundo sem tantos mimimis, essa fala - infeliz é verdade - talvez não devesse gerar tanta polêmica. No entanto, ela partiu do líder maior de um grupo político que é especialista em fazer zoada e gritaria justamente com esse tipo de declaração. A esquerda vive de lacrar no “repúdio” a manifestações de toda sorte que seus próceres consideram machistas, preconceituosas, misóginas, homofóbicas, etc.

Então porque, diante da declaração de Lula, a esquerda brasileira não criticou de forma agressiva e sistemática como costuma fazer? Por que não houve um repúdio veemente de entidades de esquerda à fala considerada misógina e machista do presidente? E se a frase tivesse sido pronunciada pelo ex-presidente rival do PT ou por algum líder destacado da direita? Essa hipocrisia vergonhosa e abjeta os sensatos não engolem.

Pior do que não criticar, aqueles ferozes patrulhadores de frases de rivais se empenharam em fazer uma defesa enfática da fala de Lula. A própria “vítima”, Gleisi Hoffmann, saiu em defesa do presidente e classificou como “ataque” a repercussão que os adversários fizeram da fala do seu chefe. Dessa vez, a companheirada militante não se esforçou para problematizar o fato de Lula colocar a beleza que ele vê em Gleisi na frente das supostas qualidades dela enquanto pessoa pública, mulher e ministra.

Ainda mais grave, alguns políticos trataram de tentar encontrar uma razão louvável para Lula ter se referido assim à sua nova ministra. Dias atrás, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em mais um dos seus absurdos verborrágicos, afirmou que as mulheres petistas são “feias” e “incomíveis”. Diante da fala de Lula, alguns desonestos intelectuais tentam emplacar a desculpa de que, ao falar da beleza de Gleisi, o presidente quis responder a declaração de Bolsonaro, enaltecendo a beleza das mulheres do PT.

Esse não foi o primeiro desatino de Lula que sua companheirada passou pano. Em seu terceiro mandato, o líder petista tem se mostrado uma metralhadora de gafes e declarações polêmicas que atingem determinados segmentos e/ou minorias.

A grande verdade é que reina a hipocrisia na forma como a esquerda encarou o episódio de Lula com Gleisi Hoffmann. Para a maioria da companheirada, o machismo, o preconceito, a homofobia e a misoginia são grandes males, mas depende de quem as pratica.

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