O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu no domingo (24) uma reportagem mostrando falcatruas praticadas por prefeituras no programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Um dos casos mais absurdos foi o do município de Paquetá, a 307 km de Teresina. Lá, segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), quase metade da população estava inscrita no EJA no ano de 2022, o maior número de matrículas do programa no País, em termos proporcionais.
Entre os inscritos tinha gente morta, um preso de outro estado e pessoas que nunca pisaram os pés na sala de aula da EJA e nem mesmo sabiam que haviam sido ilegalmente matriculadas. A prefeitura de Paquetá recebeu, em média, R$ 5 mil por cada aluno.
A reportagem do Fantástico tentou falar pessoalmente com o prefeito Clayton Barros (Progressistas), mas não o encontrou na prefeitura. Mostrou ainda que em 2022 o prefeito era Dr. Thales Coelho, hoje deputado estadual pelo Piauí. Thales e Clayton são aliados.

Ocorre que horas depois da reportagem ser exibida e do absurdo ser visto por todo o Brasil, Thales e o prefeito Clayton Barros preferiram debochar em vez terem vergonha da exposição nacional. Nas redes sociais, Thales compartilhou vários vídeos da campanha municipal de 2024 em tom provocativo contra adversários políticos locais.
Foi uma sequência de vídeos, alguns deles acompanhados da música "Eu vou postar só doer em você" (tática infalível), sucesso do cantor Evoney Fernandes. Outros tinham a frase "E não esqueçam da lapada". A maioria dos vídeos foi postada por apoiadores de Thales e Clayton, e repostados logo em seguida nos perfis oficiais dos dois.

A atitude do ex-prefeito e deputado estadual Thales Coelho, e do prefeito Clayton Barros, mostra o nível de desmoralização da política e de banalização das falcatruas na gestão pública. Enquanto um caso flagrante de ilegalidade é exposto para todo o País, os protagonistas preferem zombar e debochar em vez de sentirem vergonha na cara.
O gesto é também uma afronta às famílias dos mortos inscritos ilegalmente na EJA e aos cidadãos que tiveram seus dados usados de forma indevida. É um acinte a qualquer cidadão pagador de impostos, menos, talvez, para apaniguados que preferem passar pano para políticos de estimação mesmo com um episódio tão grave diante do próprio nariz.
O deboche de Thales e Clayton é um lamentável exemplo de como parte do políticos despreza a probidade e aposta na impunidade.
Veja alguns vídeos: