A polícia do Piauí descobriu, nesta quinta-feira (20), duas grandes roças de maconha na zona rural do município de Capitão Gervásio Oliveira, a 520 km de Teresina, no semiárido do estado. As roças teriam potencial para produzir até 6 toneladas da droga, segundo informou a polícia.
Na semana passada, a polícia já havia descoberto outra grande plantação de maconha bem pertinho dali, na zona rural do município de Dom Inocêncio. O plantio de três hectares tinha capacidade para produzir até 13 toneladas da droga.
Capitão Gervásio Oliveira e Dom Inocêncio fazem limites territoriais. São municípios vizinhos e com as mesmas características.
Porém, essas não foram as primeiras grandes roças descobertas na região. Em Dom Inocêncio já haviam sido localizadas outras plantações: uma em julho de 2022 e outra em fevereiro de 2023. Com a da semana passada, já são três grandes roças descobertas no município em menos de três anos.

A Secretaria de Segurança Pública do Piauí precisa fazer algo para evitar esse avanço. Muita gente pode dizer: 'Ah, mas já está sendo feito, afinal, as roças estão sendo descobertas e destruídas'. Contudo, esse problema aparenta ser bem mais profundo e o seu enfrentamento deve ir além.
A região onde estão localizados os municípios de Dom Inocêncio e Capitão Gervásio Oliveira é próxima daquela que ganhou fama nacional nas décadas de 80 e 90 como "Polígono da Maconha". Compreendia alguns municípios dos estados de Pernambuco (Petrolina, Cabrobó, Floresta, Ouricuri, Salgueiro, Santa Maria da Boa Vista) e da Bahia (Curaçá, Casa Nova e Juazeiro).
Os relatos da presença da cannabis na região datam do século XIX, mas o auge se deu nas duas décadas finais do século XX. Estudo de um pesquisador da Universidade de Juiz de Fora apontou que o "Polígono da Maconha" chegou a produzir 40% da maconha brasileira no período.
As disputas pelos plantios fizeram estourar a violência naquelas bandas anos atrás, protagonizada por clãs que dominavam a produção da droga e lideravam o banditismo na região, que incluía assaltos em estradas e a bancos.
A partir da década de 1990 e nos primeiros anos da década de 2000, um conjunto de ações das forças de segurança desencadeou um forte enfrentamento à produção e à comercialização de maconha no polígono, inclusive com atuação da Polícia Federal. A ofensiva fez com que a realidade mudasse. Embora ainda existam plantações, não se compara com outrora. Hoje em dia, até o nome "polígono da maconha" é considerado pejorativo.
Ocorre que, com o combate em Pernambuco e na Bahia, e as constantes descobertas de roças agora no Piauí, cresce a desconfiança de que grupos possam ter descoberto em terras piauienses um lugar ideal para plantar maconha.
O município de Dom Inocêncio, por exemplo, fica numa área estratégica: faz extensa divisa com o estado da Bahia e fica bem perto da divisa com Pernambuco. Possui grande extensão territorial, centenas de estradas vicinais na caatinga, tem pouco policiamento e está longe de cidades grandes.

As frenquentes descobertas têm que servir de alerta para as autoridades do Piauí. Sabe-se, segundo relatos de moradores locais, que algumas terras onde foram achados plantios foram adquiridas por gente de fora. No entanto, nas apreensões até aqui divulgadas a polícia só prendeu "peixes pequenos" que estavam cuidando da plantação na hora da chegada dos policiais.
Há alguns meses, questionado por este colunista sobre a possibilidade de produtores de maconha da Bahia e de Pernambuco estarem migrando para aquela parte do Piauí, o secretário de Segurança Pública do Piauí Chico Lucas disse que não tinha elementos para responder sobre o tema, mas prometeu analisar. "Vou estudar o assunto. Não tenho elementos para responder", disse ele na ocasião.
Como dito antes, enfrentar esse problema vai muito além de apenas destruir as roças e prender os operários (embora esse trabalho também seja importante). Já foram muitas descobertas e, por isso, não é exagero concluir que a questão merece um olhar mais profundo por parte das forças de segurança do Piauí.