Os tempos passam e as virtudes mudam. Na política, então, essa mudança é ainda mais rápida e sem cerimônia. Hoje em dia, virou prática comum governantes de todos os partidos nomearem parentes no primeiro escalão de suas gestões, lançarem esposas e filhos candidatos ou colocarem cônjuges em um vitalício cargo nos tribunais de contas.
No Piauí, por exemplo, o então governador Wellington Dias (PT) colocou a esposa Rejane Dias como secretária de estado em seus governos (de Assistência Social e de Educação), depois a lançou deputada estadual e posteriormente deputada federal. Por fim, ajeitou-a no cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI), onde ganha cerca de R$ 40 mil por mês, fora os penduricalhos. O caso de Dias é apenas um em meio a tantos.

Mas, houve um tempo que o PT achava imoral esse tipo de prática. Nas eleições municipais de 2000, o partido elegeu um único prefeito no Piauí: Pedro Paulo Macedo da Rocha, do município de José de Freitas, a 54 km de Teresina.
Após uma campanha histórica em que derrotou um grupo poderoso apontado como franco favorito, o gestor caiu na besteira de nomear a esposa Vera Regina como secretária de Assistência Social e o pai, Sebastião da Rocha, como chefe de gabinete. Na época, o chefe de gabinete ganhava R$ 230 por mês e a mulher R$ 550.
A atitude foi vista como um escândalo para a moral e os bons costumes do PT. A Executiva Nacional do partido aprovou no dia 23 de janeiro de 2000, em São Paulo, uma resolução pedindo a seus prefeitos e vereadores que não contratassem parentes até o terceiro grau. A determinação ocorreu depois da constatação de indicações de parentes por prefeitos do PT em São Paulo, Pernambuco, Campinas e Ceará.
A então presidente do diretório regional do PT do Piauí, Regina Sousa, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo na época que o caso da prefeitura de José de Freitas seria levado à direção nacional do partido. Ameaçado de expulsão e disposto a manter a esposa e o pai na gestão, o prefeito Pedro Paulo se viu obrigado a pedir a desfiliação do PT no dia 6 de março, pouco mais de dois mês após assumir o mandato na prefeitura.

O pai do prefeito, Sebastião da Rocha, disse à Folha de S. Paulo que o filho sabia que o PT deveria expulsá-lo por causa das contratações dos parentes e que, por isso, ele pediu a desfiliação antes. "Aquele que não cumprisse (a recomendação de não nomear parentes) seria punido", afirmou em entrevista por telefone.
Cerca de dois anos após esse episódio de José de Freitas, o PT chegou ao Governo do Piauí e ao Governo Federal pela primeira vez. A partir dali, esqueceu as próprias regras e logo a porteira foi aberta para a parentada nos governos. O caso de José de Freitas só serviu mesmo para ficar na história.