A eleição para senador no Piauí em 2026 promete algumas emoções. Contudo, se nenhuma mudança brusca acontecer, a emoção se dará pela disputa na própria base do governador Rafael Fonteles (PT), onde Marcelo Castro (MDB) vai buscar a reeleição e onde o deputado federal Júlio César (PSD), tenta, a todo custo, fazer parte da chapa. Há também o deputado Flávio Nogueira, que reivindica a candidatura a senador pelo PT.
O povo é quem vota numa eleição e, por isso, deve sempre ser tratado como soberano nas análises sobre conjunturas políticas. É o eleitor quem decide a eleição. Porém, não há como negar a influência que as lideranças políticas exercem no processo de convencimento de parte significativa do eleitorado, sobretudo no Piauí, um estado carente de quase tudo e distante da realidade que as propagandas institucionais tentam passar.
Feitas essas observações, e considerando o cenário político atual, a disputa para senador vai apontando na direção de uma consolidação da competitividade e da perspectiva de reeleição do senador Ciro Nogueira (PP). Bastam algumas conversas com prefeitos e até deputados ligados ao Governo para entender a razão de Ciro despontar, até aqui, como favorito para a disputa pelo Senado em 2026. Muitos aliados entendem que a eleição de Ciro é “necessária” para fazer frente ao próprio Rafael.

O estilo político de Rafael, nada carismático em avaliações quase unânimes de adversários e aliados, é uma das razões para essa percepção de governistas sobre a importância de eleger Ciro. Vereadores, prefeitos e até deputados governistas com quem este colunista dialoga avaliam que não se pode entregar todo o poder político nas mãos de Rafael. Ciro seria, na avaliação deles, um “contrapeso” essencial para não deixar que o governador petista se ache, ainda mais, um rei absoluto.
Situação semelhante aconteceu em Teresina nas eleições municipais de 2024, quando Rafael investiu todas as suas forças para eleger o candidato a prefeito Fábio Novo (PT) e, mesmo com um palanque quatro vezes maior, acabou derrotado por Silvio Mendes (União) no primeiro turno.
O que se ouve de muitos aliados do governador – e isso é bastante perigoso para ele – é que vão votar em Rafael, mas essa declaração vem acompanhada de uma série de queixas sobre o tratamento recebido do Karnak e sobre o estilo do gestor estadual. Essa insatisfação velada tem feito as lideranças sinalizarem (e algumas até a falarem publicamente) apoio a Ciro para senador. Essa situação, registre-se, deve ser vista também com alerta pelo próprio Rafael. Na política, o eleitor desapaixonado pode ser um sinal perigoso.

Ainda em relação ao senador Ciro, outro fator contribui para a adesão de prefeitos e lideranças, mesmo do PT. A rejeição de parte dos prefeitos ao deputado federal Júlio César (PSD) para senador também faz com que estes busquem Ciro. E isso é fácil de se explicar: ao tempo em que é uma potência eleitoral junto a prefeitos, o deputado estadual Georgiano Neto, filho de Júlio, deixou um rastro de insatisfações em muita gente com seu estilo de fazer política. Até mesmo deputados governistas não escondem o ressentimento por conta da “ânsia eleitoral” do rapaz. E quem está pagando é o pai.
No entanto, não são apenas as insatisfações do lado oposto que tornam Ciro atraente a políticos governistas. O senador tem, de fato, garantido recursos para as prefeituras de quase todos os municípios, ignorando querelas partidárias e focando no pragmatismo político. Para muitas lideranças, Ciro precisa ser “recompensado” pela atuação. Há, ainda, quem avalie que o Piauí ficará sem uma liderança política de envergadura nacional se Ciro não for reeleito. Para os que assim pensam, Ciro garante o protagonismo do Piauí no Congresso Nacional e perdê-lo seria um prejuízo para a representação do estado.
Por esta ou aquela razão, o senador do Progressistas no Piauí vai construindo caminho para uma reeleição que, até aqui, parece bem encaminhada. Contudo, política é política e, como diz o trecho da música, “amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada.”